Use o empréstimo para resolver, não para adiar problemas

Use o empréstimo para resolver, não para adiar problemas

Em um país onde o acesso ao crédito cresce a cada ano, a linha tênue entre solução e armadilha torna-se cada vez mais tênue. É fundamental compreender que o empréstimo deve atuar como ferramenta estratégica para quitar pendências e não como mecanismo de postergação de responsabilidades.

Com mais de R$ 6,7 trilhões em operações de crédito no Sistema Financeiro Nacional, famílias e empresas contam com recursos disponíveis. No entanto, ciclo nocivo de 'bola de neve' assombra quem recorre ao recurso sem planejamento.

Panorama do crédito e endividamento no Brasil

O volume de crédito no Brasil segue em expansão: em maio de 2025, o saldo atingiu R$ 6,7 trilhões, 11,8% acima do mesmo período do ano anterior. Para pessoas físicas, são R$ 4,1 trilhões liberados em empréstimos; empresas somam R$ 2,5 trilhões. Ainda que o Banco Central projete 8,5% de crescimento para 2025, o principal destaque está no crédito às famílias, previsto em alta de 9,3%.

Apesar de juros médios alcançarem 40,8% ao ano em modalidades livres, a inadimplência de pessoas físicas com atrasos acima de 90 dias caiu para 5,3% em 2024, mostrando que, mesmo em cenário de ônus elevado, a busca por crédito persiste como estratégia de liquidez.

Perigos de usar empréstimos de forma incorreta

Muitas famílias recorrem a cartas de crédito mais onerosas, como cartão de crédito e cheque especial, priorizar a quitação de débitos vira desafio quando as taxas aumentam o montante devido. Sem planejamento, surge o plano de reestruturação financeira apenas no papel, sem chance de ser executado.

  • Renegociar dívidas recorrendo a linhas mais caras;
  • Usar empréstimo para gastos rotineiros sem orçamento;
  • Empilhar parcelas sem avaliar a capacidade de pagamento;
  • Transferir o débito de uma conta para outra indefinidamente.

Caminhos para um crédito saudável

Quando usado com critério, o empréstimo pode ser alicerce para a estabilidade financeira. O primeiro passo é o diagnóstico completo: identifique todas as dívidas, taxas e prazos. Em seguida, negocie descontos e condições mais favoráveis.

Ao optar pela nova linha de crédito, escolha modalidades com juro menores em crédito consignado ou garantidas por ativos, pois oferecem custos significativamente inferiores aos empréstimos livres. Lembre-se de que as parcelas devem se encaixar no orçamento sem comprometer gastos essenciais.

  • Diagnóstico financeiro completo;
  • Pesquisa de opções de crédito e comparação de taxas;
  • Elaboração de cronograma de pagamento realista;
  • Reserva de emergência para imprevistos.

Impactos do superendividamento e a educação financeira

O superendividamento não atinge apenas a capacidade de consumo: ele corrói a autoestima, aumenta o estresse e fragiliza laços familiares. Com comprometimento médio da renda superior a 27%, muitas pessoas sentem-se presas em um ciclo sem saída.

  • Perda de acesso a futuras linhas de crédito;
  • Restrição de nome em órgãos de proteção ao crédito;
  • Impactos na saúde mental e bem-estar familiar;
  • Dificuldade de poupar e planejar o futuro.

Para ilustrar, conheça a história de João, que recorreu a empréstimos sucessivos para cobrir parcelas em atraso. Em poucos meses, viu seu orçamento afundar. Com orientação de um educador financeiro, renegociou dívidas, reduziu gastos supérfluos e estabeleceu um plano de pagamento: hoje, está a seis meses da quitação total.

A educação financeira é peça-chave para romper o ciclo. Aprender sobre juros, orçamento e prioridades transforma o crédito em recurso de emergência e não em muleta eterna. Organizações sociais e plataformas de ensino gratuitas podem ser aliadas valiosas nessa jornada.

Em resumo, usar o empréstimo como instrumento de solução exige disciplina, informação e estratégia. Nunca deixe que o crédito sirva apenas para adiar decisões fundamentais. Com planejamento, negociação e reserva de emergência, é possível retomar o controle financeiro e caminhar rumo a um futuro mais seguro e tranquilo.

O momento para agir é agora: avalie suas finanças, trace um plano e faça do empréstimo um aliado, não um vilão. Mantenha o foco no propósito maior: a liberdade de viver sem o peso constante das dívidas.

Felipe Moraes

Sobre o Autor: Felipe Moraes

Felipe Moraes, 36 anos, é colunista do documentarios.org, onde compartilha seus conhecimentos sobre planejamento financeiro, crédito pessoal e investimentos.