Em um país onde o cartão de crédito é quase onipresente, é fácil cair na armadilha de parcelar compras sem avaliar o impacto nos meses seguintes. Afinal, a possibilidade de dividir pagamentos em até doze vezes pode parecer um convite à facilidade imediata sem dor futura. Entretanto, essa escolha, quando feita de forma desinformada, pode gerar um efeito dominó no orçamento familiar que compromete sonhos e projetos de longo prazo.
O cenário do parcelamento no Brasil
O parcelamento foi aperfeiçoado no Brasil e virou parte do cotidiano dos consumidores. Em 2025, 69% dos brasileiros já recorreram a essa modalidade, e 41,7% fazem uso semanalmente. O valor movimentado no primeiro trimestre de 2025 pelo cartão de crédito foi de R$ 721,1 bilhões, um aumento de 13,5% em relação ao ano anterior.
- 41,1% do valor total das compras no crédito foi parcelado sem juros, equivalente a R$ 1,3 trilhão em 2024.
- 49,5% das transações presenciais com cartão de crédito utilizaram parcelamento sem juros.
- 47,6% das compras no e-commerce com cartão de crédito foram parceladas sem juros.
- 26,6% dos pagamentos por aproximação também aderiram ao parcelamento.
Esse crescimento reflete tanto o interesse em diluir o custo de produtos mais caros quanto a pressão econômica que faz com que itens básicos sejam parcelados.
Consequências do parcelamento excessivo
Embora o parcelamento possa aliviar o peso de uma compra imediata, ele acarreta riscos que vão além dos juros cobrados em caso de atraso. Consumidores que parcelam itens de supermercado, por exemplo, apresentam uma taxa de inadimplência 30% maior do que aqueles que optam pelo pagamento à vista.
- Comprometimento de parte considerável do orçamento em meses futuros.
- Risco de endividamento crescente com multas e juros elevados.
- Dificuldade em lidar com despesas inesperadas que surgem ao longo do período de parcelamento.
- Impacto negativo na saúde financeira da família e nos planos de longo prazo.
Por que evitar parcelamentos de longo prazo
Optar por parcelamentos muito longos, mesmo quando sem juros, pode significar evitar uma bola de neve financeira. A sensação de que “não pesa no bolso” é enganosa: cada parcela futura reduz seu poder de compra e limita sua capacidade de poupar ou investir.
- Redução da liquidez mensal, com parcelas comprometendo até 20% da renda.
- Dificuldade em renegociar dívidas caso ocorram imprevistos.
- Desperdício de oportunidades de investimento mais rentáveis do que o custo zero de juros.
- Perda de autonomia para decisões financeiras futuras.
Esses fatores podem transformar o parcelamento de algo estratégico em um obstáculo para o alcance de metas maiores.
Dados-chave sobre prazos de parcelamento
A forma mais comum de parcelamento — até seis vezes sem juros — representa 65% do total transacionado. Quando consideramos até doze parcelas, esse número salta para 98,6%, indicando que poucas compras são diluídas além de um ano.
Essas estatísticas mostram que o consumidor busca a parcela baixa, mas tende a estender o prazo quando a modalidade oferecida parece vantajosa.
Diretrizes para um consumo mais consciente
Para evitar armadilhas financeiras, é essencial estabelecer um planejamento claro. Avaliar necessidade real antes de parcelar é o primeiro passo para manter o controle do orçamento mensal e proteger a saúde financeira da família. Veja como começar:
1. Concentre suas compras de consumo recorrente (supermercado, farmácia e combustíveis) em pagamentos à vista. Isso ajuda a reduzir automaticamente o saldo devedor no cartão.
2. Defina um teto de 20% do seu orçamento mensal para dívidas parceladas. Inclua neste cálculo todas as parcelas ativas para não ter surpresa no fim do mês.
3. Crie uma planilha ou utilize aplicativos para acompanhar cada parcela. Registrar data de vencimento e valor facilita a visualização do impacto no fluxo de caixa futuro.
4. Priorize dívidas com juros mais altos e faça renegociações sempre que possível. Tomar decisões de consumo mais conscientes requer, também, saber quando negociar.
5. Se vir uma oferta de parcelamento acima de seis vezes, reflita: isso vale a pena em comparação com um desconto à vista ou outra forma de pagamento?
Conclusão: assumindo o controle do seu futuro financeiro
Em um cenário econômico desafiador, o parcelamento pode ser um aliado, mas também um vilão silencioso. Aprender a equilibrar suas escolhas, evitar qualquer tipo de dívida desnecessária e manter hábitos de consumo responsáveis constrói um caminho mais seguro rumo à liberdade financeira.
Ao adotar práticas simples — revisar seu orçamento mensal, planejar compras e escolher prazos adequados —, você passa a manter hábitos de consumo responsáveis e evitar qualquer tipo de dívida desnecessária, protegendo seus sonhos e conquistando um futuro sem o peso de parcelas que se arrastam por meses a fio.
Referências
- https://brazileconomy.com.br/2025/04/cartao-de-credito-mais-de-69-dos-brasileiros-parcelam-e-417-utilizam-toda-semana/
- https://panoramaabecs.com.br/uso-de-cartoes-supera-4-trilhoes-de-reais-em-2024/
- https://www.bcb.gov.br/estatisticas/estatisticasmonetariascredito
- https://www.infomoney.com.br/minhas-financas/pagamentos-com-cartoes-movimentaram-r-11-trilhao-no-primeiro-trimestre-de-2025/
- https://www.otempo.com.br/economia/2024/9/27/brasileiro-parcela-mais-as-compras-do-supermercado-e-inadimplenc
- https://stripe.com/br/resources/more/installment-payments-101-a-guide-for-businesses
- https://panoramaabecs.com.br/parcelado-sem-juros-representa-40-por-cento-das-compras-no-cartao-de-credito/
- https://www.efetividade.blog.br/como-calcular-juros-compras-parceladas/