O uso indiscriminado do cartão de crédito como complemento de salário é uma armadilha comum. Cerca de 20% dos brasileiros caem nesse erro, mesmo sabendo dos riscos. Nesta leitura, vamos analisar causas, consequências e apresentar recomendações para uma vida financeira saudável.
O mito da renda extra pelo cartão de crédito
Muitos consumidores caem no equívoco de tratar o limite do cartão como renda. Esse comportamento leva à ilusão de maior poder de compra, mas na prática implica em um empréstimo com juros elevados.
Ao ignorar que se trata de crédito e não de salário líquido, o usuário acaba comprometendo pagamentos futuros. A facilidade de acesso a limites que chegam a quatro vezes a renda mensal apenas potencializa o problema.
Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil, alerta que “se o dinheiro que o consumidor dispõe já não está sendo suficiente, certamente não será o bastante para arcar com a fatura do cartão e as demais contas do mês seguinte”.
Sinais de uso problemático
- Utilizar o cartão para despesas básicas, como mercado e farmácia.
- Pagar apenas o mínimo da fatura e entrar no ciclo do crédito rotativo.
- Acumular múltiplos cartões para aumentar o limite disponível.
- Ter o salário comprometido logo ao recebê-lo, devido a débitos agendados.
Esses indícios indicam que o consumo está acima da renda real e que as dívidas podem crescer sem controle.
Causas do endividamento
O cenário brasileiro favorece o surgimento desse hábito perigoso. Existem três fatores principais que contribuem:
- Fácil acesso ao crédito pré-aprovado sem análise detalhada da capacidade de pagamento.
- Cultura de consumo imediato e forte incentivo ao parcelamento sem juros aparentes.
- Ofertas constantes de aumento de limite, criando a sensação enganosa de “mais renda” disponível.
Ione Amorim, economista do Idec, reforça: “o alívio financeiro aparente induz a escolhas erradas e sem avaliação de risco”.
Consequências financeiras
Quando o cartão é visto como renda extra, os impactos negativos surgem rapidamente:
As taxas de juros altíssimas do crédito rotativo podem ultrapassar 300% ao ano. No parcelamento, a média alcança 174% ao ano. Isso faz com que a dívida inicial se multiplique de forma alarmante.
Além disso, ocorre a redução do score de crédito, dificultando o acesso a financiamentos mais baratos no futuro. O consumidor acaba preso a um ciclo em que o pagamento mínimo não é suficiente para liquidar o saldo, e a fatura cresce mês a mês.
Papel das instituições financeiras
As financeiras contribuem para o problema ao realizar análises superficiais de renda e oferecer limites elevados sem avaliar o endividamento prévio do cliente.
O marketing de ampliação de limite, muitas vezes, ignora a real situação financeira do consumidor, estimulando o gasto excessivo e a falsa sensação de conforto.
Dicas para uso consciente e prevenção
- Não considerar o cartão como extensão da renda mensal.
- Planejar o orçamento evitando depender do crédito para despesas básicas.
- Priorizar pagamentos à vista e negociar descontos sempre que possível.
- Antes de aceitar aumento de limite, refletir sobre a real necessidade.
- Perguntar-se: “Eu compraria isso se tivesse que pagar à vista?”
Com planejamento e disciplina, é possível usar o cartão de forma saudável e evitar que as obrigações financeiras se tornem incontroláveis.
Contexto macroeconômico e vulnerabilidades
Fatores como desemprego, inflação elevada e queda de renda agravam o cenário. Em momentos de crises, a população se sente mais pressionada a recorrer ao crédito fácil para manter o padrão de vida.
Esse contexto amplia a margem de erro na gestão financeira e aumenta a probabilidade de recorrer a múltiplos cartões ou ao cheque especial, agravando o endividamento.
Conclusão
Tratar o cartão como se fosse dinheiro disponível é um equívoco que pode custar caro. A consciência financeira será o diferencial para que cada decisão de consumo seja feita de forma responsável.
Assuma o controle dos seus gastos, conheça seus limites reais e utilize o crédito como ferramenta, não como fonte de renda. Seu futuro financeiro agradece.
Referências
- http://www.aserc.org.br/2018/06/18/cartao-de-credito-e-extensao-de-renda-para-20-de-seus-usuarios/
- https://www.folhavitoria.com.br/economia/ibef-cartao-de-credito-beneficios-riscos-e-dicas-de-uso-saudavel/
- https://blog.contasonline.com.br/parcelas-credito-dividas
- https://vradvogados.com.br/cartoes-cheque-especial-e-emprestimos-os-riscos-do-credito-excessivo/
- https://idec.org.br/idec-na-imprensa/como-nao-cair-em-furada-no-cartao-de-credito
- https://www.gazetadopovo.com.br/economia/financas-pessoais/limite-de-cheque-especial-e-cartao-de-credito-pode-superar-renda-em-4-vezes-4ar498i5z2v8d1813fagr5ddy/